quinta-feira, 26 de novembro de 2020

O buraco é mais embaixo

Só não enxerga quem não quer: a maioria dos problemas brasileiros resulta da inércia, inépcia e incompetência dos governantes, que simplesmente viraram as costas para a pobreza crescente no Brasil. Na mesma medida em que cresce o número de favelas, barracos, palafitas, invasões de terras, assentamentos ilegais – últimos recursos de uma população excluída e marginalizada – cresce também a deficiência no ensino, a falta de escolas, de assistentes sociais, de amparo aos mais necessitados.
Crianças que largaram os estudos, famílias desestruturadas e o avanço dos traficantes e das milícias, fazem com que aumente o número de jovens cooptados pela criminalidade, que promovem seu “acolhimento”, oferecem uma sensação de pertencimento que os jovens não obtêm em suas casas. Grande parte dos seus irmãos são frutos de diferentes pais, num segmento social em que as palavras casamento e união estável inexistem.
E o que exatamente os governos federal, estaduais e municipais via de regra fizeram para mudar este status quo? Instalaram mais escolas próximas destes bolsões de pobreza? Enviam assistentes sociais para orientações sobre higiene, alimentação, controle de natalidade? Oferecem creches para as mães deixarem seus filhos e, em geral como chefes de família, poderem trabalhar e levar sustento às suas proles? Como anda o atendimento hospitalar? Onde estão as obras de infraestrutura (água, esgoto, arruamentos, eletricidade sem os chamados “gatos”)? Quais programas habitacionais foram realmente implantados em larga escala?
As charges e fotos de políticos visitando as periferias são comuns em época de eleições. Poucos deles realmente se preocupam com os problemas. Não tive a oportunidade de ver um único projeto de candidato que oferecesse ideias nem soluções para essa imensa massa de marginalizados.
O buraco é bem, bem fundo!


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Blogueiros Oitentões

 

Há cerca de dez anos apresentei na Academia de Letras de Londrina um breve texto, com o título “Blogueiros Setentões”. Eu compartilhava a minha descoberta de que não conhecia nenhum outro setentão além de mim produzindo e escrevendo em seus próprios blogs.
A razão maior era o fato de que, com aquela idade, poucos jornalistas, publicitários e outros profissionais tiveram a coragem ou o atrevimento de se enredar nos programas gráficos de computador, que soavam estranhos e complexos para a minha geração. Hoje, em parte graças aos celulares (que são na realidade minicomputadores de alto desempenho), os jovens e principalmente as crianças operam este novo mundo digital com uma desenvoltura inacreditável.
No meu caso, como publicitário e originalmente “layoutman” (desenhista-criador de peças publicitárias na antiga prancheta de desenho), fui obrigado em meados da década de 1990 a tomar uma decisão radical na minha vida. Após perceber que outras agências de propaganda apresentavam seus trabalhos já produzidos em Corel, Page-Maker, Photoshop e outros programas gráficos, finalizados em impressoras de mesa, embrenhei-me no mundo da informática. Com meu primeiro computador, adquiri aqueles programas e, inicialmente receoso e atemorizado, levei alguns meses até conseguir produzir as primeiras criações publicitárias, que possibilitaram a continuidade da minha sobrevivência profissional ao mesmo nível dos concorrentes.
As universidades ampliaram seus cursos. O termo layoutman mudou para designer gráfico. Surgiram novas áreas, anteriormente impensáveis, como Big Data e Inteligência Analítica, Marketing Digital, Gestão da Comunicação Digital e Mídias Sociais, Produção Audiovisual Multiplataforma, Gestão de Redes de Computadores e Comunicação de Dados... e tantas outras especializações que hoje formam um emaranhado infinito de opções para formação de futuros profissionais. Cursos que vão muito além das áreas de comunicação, propaganda e marketing que eu cursara.
Em meados da década de 2000, comecei a aplicar meus conhecimentos de redação de textos e de design gráfico criando meu primeiro blog, que intitulei de “Bahr-baridades”, uma brincadeira com meu sobrenome. De início tímido, mas com ampla liberdade de expressão, escrevi sobre tudo: política, fatos do dia a dia, humor, crônicas, histórias do meu passado... 
Os acessos ao blog cresciam diariamente e chegaram a uma média de 1.000 diários, conforme indicava o contador de acessos do provedor. Em 2011, fui convidado pelo Diário de Maringá a inserir meu blog naquele veículo, onde o mantive até a decretação da falência daquele veículo em abril de 2019, perdendo lamentavelmente a maioria dos cerca de 4.000 textos lá publicados, que se tornaram inacessíveis. O mesmo aconteceu com vários outros blogs inseridos naquele portal.
Fui criador de outros blogs: talvez o mais importante tenha sido o “Visual de Londrina”, no qual eu me dedicava a denunciar a poluição visual da nossa cidade. Eu circulava pela cidade, fotografava os locais onde a poluição visual saltava aos olhos, inseria posts com as fotos e textos no blog, mostrava caminhos e soluções e este trabalho acabou despertando a atenção da imprensa - jornais, revistas e televisão -, para os quais dei várias entrevistas. Recebi críticas, elogios e quase tomei uma surra do pessoal que trabalhava com outdoors, ameaçados de perder seus empregos se a cidade adotasse medidas contra a poluição visual. Os textos que eu inseria no blog serviram de base, finalmente, para o então prefeito Barbosa Neto redigir e fazer aprovar a Lei da Cidade Limpa, de Londrina. Pelo trabalho desenvolvido, fui convidado a inserir meu blog no Jornal de Londrina, onde pouco mais tarde o extingui, visto a missão ter sido cumprida.
Hoje opero mais dois blogs: este “Conversas de bahr em bahr” – novamente uma brincadeira com meu sobrenome – e “Publicidade, prazer em conhecer”. Por comodismo, faço poucas inserções de matérias em ambos, talvez porque minha jornada de blogueiro já tenha sido bastante extensa.
Quando lancei meu segundo livro, fui entrevistado pelo Jornal da Gleba. O título da matéria foi “Julio Ernesto Bahr, o fuçador”. Sim, pois revelei ao jornalista que sou um pesquisador ou “fuçador” da internet, sempre buscando informações e comprovações de assuntos. E foi fuçando que descobri – ou melhor, não descobri até agora - nenhum outro blogueiro oitentão, que produza e escreva em seus próprios blogs.
Alguns provavelmente existem no Brasil. Em outros países, com certeza. Muitos existirão no futuro, quando a geração mais jovem se tornar idosa. Eles chegarão com grande conhecimento tecnológico e, quiçá, com formação cultural elevada. Mas por enquanto, considero-me um exemplar raro nesta fauna que se convencionou chamar de Terceira Idade. 
Um blogueiro oitentão! Principalmente blogueiro!

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Trump, espírito de ditador

 

Psiquiatras talvez possam explicar melhor as tendências de tantos dirigentes de países por todos os cantos do mundo em se tornarem ditadores.
A regra geral deles é jamais deixar o cargo de presidente e/ou ditador, agarrando-se com unhas e dentes às suas cadeiras/tronos, eternizando-se por 10, 20 ou mais anos.
A História está recheada destes tipos. Alguns já morreram, foram mortos ou estão a perigo em seus países:
Muammar Gaddafi
Papa Doc
Kim Jong-un
Manuel Noriega
Francisco Franco 
Augusto Pinochet
Salazar
Sadat
Bashar al-Assad
Lukaschenko
O que se estranha é que nos Estados Unidos, considerado um dos mais democráticos países do mundo, a figura arrogante, malcriada, despreparada e sem compostura de Donald Trump, vem demonstrando o seu desequilíbrio mental e moral, contestando as atuais eleições (cujo sistema difere dos sistemas da maioria dos países). Lá é possível um candidato ser derrotado nas urnas, mas ser eleito graças ao Colégio Eleitoral, o que  já ocorreu cinco vezes na história norte-americana. A primeira foi em 1824!
Depreende-se que o "espírito de ditador" tenha se alojado na cabeça de Trump, que está contestando as eleições - mesmo sem que todos os votos tenham sido apurados até esta data (05/11). 
Se eu fosse norte-americano, gritaria com todas as minhas forças: 
"Go home, Trump!"