segunda-feira, 16 de março de 2020

Meu dia 15 de março


Quando se começou a falar do Movimento de 15 de março de 2020, as redes sociais propunham um protesto contra o Congresso Nacional e contra o Supremo Tribunal Federal.
Aqui do alto das minhas quase oito décadas de vida, julguei que era chegado o momento de participar. Afinal, tenho minhas convicções e ideias próprias em relação a ambas as instituições.
Para mim, o Congresso – com raras exceções - é um antro de corruptos e de aproveitadores. Basta verificar o montante do dinheiro que cada deputado nos custa mensalmente, entre salário, verbas de gabinete, motorista, funcionários, viagens, auxílio-moradia, passagens aéreas, diárias em “missões oficiais, cursos e congêneres”, seguro-saúde... e sabe-se lá mais o que.
Estes ganhos são uma afronta à população brasileira. Se imaginarmos um operário que levanta às 4:00h da madrugada, enfrenta duas a três conduções para conduzi-lo ao trabalho... e repete a via crucis na volta, chegando em sua casa moído de cansaço, colaborando com seu suado imposto para manter as mordomias daqueles que chamamos de “Realeza”... se imaginarmos as habitações precárias em que mora o pessoal das periferias e, pior, dos desempregados, que acabam em casebres e barracos... se analisarmos as verbas escassas dos municípios para a execução de obras básicas, como saneamento e moradias... estes fatores já nos dão um indício de que alguma coisa está muito errada lá na Capital Federal.
Sou de opinião – e creio que por enquanto as opiniões são livres – de que a Câmara dos Deputados deveria ser reduzida dos atuais 513 usufrutuários para cerca de cinco a seis por estado da federação. Um número suficiente para debater os problemas nacionais sem perder de vista as necessidades dos seus estados. E mais: salários compatíveis com a realidade nacional, eliminação de mordomias, viagens (talvez uma por mês para sua cidade), máximo de dois assessores, moradias subsidiadas em valores condizentes, seguro-saúde só dos seus próprios bolsos... com certeza haveria muito mais produção, mais votação das leis e menos tempo de “engavetamento” das propostas.
Sinto a mesma frustração quando se fala nos imperadores que habitam o Supremo Tribunal Federal, depois de anunciadas suas mordomias, os requintes exagerados nos seus cardápios alimentares, o número absurdo de funcionários daquela casa – sabendo-se que todo o trâmite jurídico passou a ser informatizado – barbeiros exclusivos, ajudantes “puxadores das cadeiras” onde se sentam, férias prolongadas. E pior: a imprensa assegura que um só juiz, o Gilmar Mendes, concedeu 630 habeas corpus desde 2009, por decisões monocráticas, sem levar os casos a Plenário, incluindo-se aí políticos corruptos e homicidas.
O vídeo abaixo mostra como um juiz sueco vive, quanto ganha e quais são suas mordomias- ou melhor, suas faltas de mordomias -, ao contrário do que sucede com as orgias e bacanais brasileiros, na Câmara e no Supremo. 



Explicada a minha posição pessoal a respeito do desejo que tive em participar do Movimento das Ruas em 15 de março último, deixo registrada minha frustração ao saber, mais tarde, que o presidente Bolsonaro transformara o movimento em um ato de apoio ao seu decadente governo. Não tenho absolutamente nada contra o presidente *, mas daí a “vestir sua camisa”, louvá-lo como “Mito” ou disparar elogios a ele nas redes sociais... existe uma enorme distância. Afinal, pelas minhas contas, 27 presidentes já passaram pela minha vida, desde Getúlio Vargas. E com certeza nenhum deles recebeu minha admiração.

* Infelizmente Bolsonaro fala abobrinhas demais, não pensa antes de abrir a boca, age intempestivamente e parece ser dominado pelos dois filhos, que mais atrapalham do que ajudam o pai.

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